Conversar pode salvar uma vida. Mas não substitui a terapia. 10 de setembro é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio.

- O suicídio não surge do nada. É sempre o fim de um longo processo de dor e silêncio, disse à PAP a Dra. Halszka Witkowska, coautora do livro "Restaurado para a Vida. Superando o Suicídio".
- Referindo-se às estatísticas policiais sobre suicídios, ela destacou que houve uma redução de 2%. "Esta será a primeira vez na história que esse número diminuirá por dois anos consecutivos", acrescentou.
- 10 de setembro é o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio
- Pessoas em crise podem usar linhas de apoio gratuitas, incluindo: 116 111 - Linha de apoio para crianças e jovens, 116 123 - Linha de apoio emocional para adultos
Dra. Halszka Witkowska: Para começar esta conversa, tenho boas notícias. Contei as estatísticas da Delegacia de Polícia referentes aos primeiros seis meses do ano e vimos uma queda de 2% nos suicídios. Esta será a primeira vez na história que esse número cairá por dois anos consecutivos.
PAP: O que influenciou isso?
HW: Na minha opinião, é resultado de começarmos a falar sobre crises de saúde mental e suicídio profissionalmente. Nós educamos, nós informamos. Os jornalistas fizeram um trabalho tremendo aqui. Você pode construir mais hospitais e contratar psicólogos, mas se as pessoas não sabem que podem ir a eles ou têm medo de ir, isso não vai ajudar.
PAP: No seu último livro, coescrito com Monika Tadra, "Returned to Life. Defeating Suicide" (Retornando à Vida. Derrotando o Suicídio), li que, além do Efeito Werther, existe o Efeito Papageno. O que é?
HW: A maioria das pessoas conhece o efeito Werther — o risco de "contágio" do suicídio por meio da divulgação dessas histórias. Mas também existe o oposto: o efeito Papageno . Quando falamos sobre suicídio de forma responsável — sem descrever os métodos, mas fornecendo informações sobre como ajudar, mostrando que a crise pode ser superada — inspiramos as pessoas a buscar ajuda. Isso funciona em muitos níveis: alguém busca apoio, outra pessoa percebe uma crise em seu entorno e a consciência social cresce. Isso é cientificamente comprovado.
Um exemplo? O rapper Logic e sua música "1-800-273-8255" — o número de uma linha de ajuda nos EUA. Após o lançamento da música, as tentativas de suicídio diminuíram, enquanto o número de pessoas ligando para a linha direta aumentou. Este é o efeito Papageno em ação.
PAP: Fiquei um pouco surpreso que tenha sido tão difícil para você encontrar personagens para o livro — pessoas que sobreviveram às suas próprias tentativas de suicídio.
HW: Eu também fiquei surpreso. Pensei que lamentar uma morte por suicídio seria mais tabu. No entanto, foi mais difícil encontrar pessoas dispostas a falar sobre suas próprias crises. Muitas pessoas têm vergonha e não querem sobrecarregar suas famílias. Homens, especialmente homens, foram os mais difíceis de convidar para a conversa.
PAP: Os treze personagens do seu livro têm algo em comum?
HW: Sim – uma infância difícil. Pode haver violência, álcool na família, às vezes abuso sexual. As cicatrizes duram a vida toda. E retornam na idade adulta, quando surgem novas crises. São "lugares negligenciados dentro de nós" que mais tarde doem e aumentam o risco de depressão ou suicídio.
O livro está repleto de exemplos impactantes. Há um menino que, aos 12 anos, teve que fugir do pai bêbado. Há uma menina que, no ensino fundamental, ouviu a mãe lhe dizer que "é melhor que ela não esteja aqui". Uma das personagens relata suas várias tentativas, após as quais sua família não chamou uma ambulância por vergonha e medo. Essas histórias mostram que o suicídio não acontece do nada. É sempre o ápice de um longo processo de dor e silêncio.
PAP: Quando criança, uma das personagens teve que cuidar da avó, que estava em estado terminal. Sobrecarregar as crianças com essa responsabilidade deixa algum rastro?
HW: Com certeza. É um pouco como ir à academia – uma criança não está pronta para levantar pesos porque seu corpo ainda está em desenvolvimento. O mesmo acontece com a saúde mental dela. Se uma criança é deixada sozinha com uma experiência muito difícil, isso pode enfraquecê-la mentalmente. Principalmente se não houver adultos por perto para apoiá-la.
Um hospital psiquiátrico, mesmo que imperfeito, salva vidas.PAP: As experiências de homens e mulheres em crises suicidas são semelhantes?
HW: A dor psicológica — solidão, rejeição, desamparo — afeta a todos igualmente. Mas todos nós reagimos de forma diferente. As mulheres se manifestam com mais frequência e buscam apoio. Os homens permanecem em silêncio. Eles rangem os dentes, acreditando que é "inapropriado" falar sobre emoções porque é "pouco masculino". E são deixados sozinhos.
PAP: O livro também apresenta um quadro sombrio da psiquiatria na Polônia.
HW: É verdade que muitos dos personagens relatam experiências traumáticas em hospitais. Mas é importante lembrar que algumas delas datam das décadas de 1990 e 2000. Hoje, o sistema está mudando: temos centros de saúde mental, enfermarias diurnas e mais ações de extensão comunitária. E uma coisa: um hospital psiquiátrico — mesmo que imperfeito — salva vidas. Os personagens do livro enfatizam isso.
PAP: Parece que as escolas desempenham um papel importante na prevenção de crises.
HW: Uma questão enorme. Mas pais e escolas não podem transferir a responsabilidade. A criança precisa ser ajudada em conjunto. E aqui chegamos a um ponto importante: para salvar a criança, às vezes precisamos primeiro salvar os pais e o professor. Afinal, como um professor esgotado ou um pai devastado podem perceber que uma criança está em crise? Como podem oferecer apoio se não têm forças nem para sair da cama?
Não são covardes nem fracos. Geralmente são pessoas que foram fortes por muito tempo.É um pouco como o carvão: você pode jogar o quanto quiser no fogão, mas se a chaminé estiver entupida, a casa ainda ficará cheia de fumaça. Os pais são como essa chaminé: se estiverem em crise, a criança sufoca. É por isso que precisamos de um sistema que apoie famílias inteiras, não apenas crianças individualmente.
PAP: Os personagens deste livro sobreviveram apesar de tudo ou graças a alguma coisa?
HW: Ambos. Às vezes, era um cachorro que, literalmente, no último minuto, impedia a dona de tirar a própria vida. Era um cachorro que não gostava de carinho ou carinho, mas quando a mulher queria, ele começava a pular nela, lambê-la, exigir atenção... Outra vez, era uma mensagem de texto de um amigo com quem o homem não conversava há muito tempo. Ele estava prestes a fazer isso quando ouviu o som da mensagem. Outras vezes, era uma conversa que pegava alguém desprevenido. Uma conversa não substitui a terapia, mas pode proporcionar aquele momento único que salva uma vida.
PAP: Que conclusões você tira dessas conversas?
HW: Que pessoas que querem tirar a própria vida não são covardes nem fracas. Muitas vezes, são pessoas que foram fortes por muito tempo. Carregaram fardos enormes sem apoio. E quando quebraram, aqueles ao seu redor — acostumados com a sua força — nem perceberam. É por isso que é tão importante que aprendamos a ser humildes diante das histórias dos outros. E que possamos dizer uma simples palavra: "Sinto muito". Isso realmente cura feridas, nos permite reconstruir relacionamentos e, às vezes, pode salvar vidas.
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Se estiver a passar por dificuldades e estiver a pensar em tirar a própria vida ou quiser ajudar uma pessoa em risco de suicídio, lembre-se de que pode utilizar as linhas de apoio gratuitas: 24/7 800 70 2222 - Centro de apoio a adultos em crise mental, 24/7 800 12 12 12 - Linha de apoio à criança do Provedor de Justiça da Criança, 24/7 116 111 - Linha de apoio à criança e ao jovem, 24/7 116 123 - Linha de apoio emocional a adultos.
Outros números de telefone e assistência também podem ser encontrados nos sites: www.zapobiegajmysamobojstwom.pl e www.pokonackryzys.pl .
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