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Especialista em sistemas de saúde: 'Não tenho certeza se a reforma resolverá os problemas atuais do sistema.'

Especialista em sistemas de saúde: 'Não tenho certeza se a reforma resolverá os problemas atuais do sistema.'
A crise atual que o sistema de saúde colombiano enfrenta é um dos temas centrais do 31º Fórum Andi de Saúde, que acontece esta semana em Cartagena. Embora o sistema seja reconhecido globalmente por sua cobertura e alcance há anos, vários fatores, especialmente o financiamento, estão atualmente segurando o setor contra as adversidades.
No encontro, diversas vozes contribuíram com seus argumentos para a discussão urgente sobre como resolver a crise atual. Uma das vozes presentes no fórum foi a do epidemiologista colombiano Santiago Herrán Diazgranados, que estuda e analisa sistemas de saúde globais há mais de duas décadas e é um dos maiores especialistas em sistemas de saúde do país.

Oficinas estão sendo realizadas no Fórum de Saúde Andi para encontrar soluções para a crise do setor. Foto: Andi

Em entrevista ao EL TIEMPO, Herrán enfatizou que o modelo de seguro saúde colombiano tem sido um dos mais equitativos do mundo, mas alertou que a crise atual exige que a sociedade tome decisões claras sobre quais doenças e populações devem ser priorizadas dentro da capacidade de cobertura do Plano de Benefícios de Saúde. "Não existe um sistema perfeito, mas precisamos ser honestos sobre o que estamos dispostos a financiar com os recursos disponíveis", disse ele.
Como você avalia atualmente o sistema de saúde colombiano? Ele foi muito respeitado por anos, mas agora está passando por uma crise complexa...
Eu diria o seguinte: todos os sistemas de saúde do mundo têm oportunidades de melhoria; nenhum é perfeito. Mas destaco algo sobre a Colômbia: de 1993 até hoje, conseguimos cobrir quase 99% da população. Esse progresso foi ainda mais agressivo nas populações mais desfavorecidas, onde a cobertura passou de 6% para quase 90% nas áreas rurais. Isso diminuiu a diferença entre aqueles que foram mais favorecidos e aqueles que não foram, permitindo que pessoas de todos os níveis socioeconômicos tenham acesso a uma UTI ou a medicamentos de alto custo. O sistema tem sido generoso, mas isso nos coloca em um dilema: até que ponto ele pode financiar tudo? Porque as necessidades são infinitas, mas os recursos são finitos.
Especialistas em economia da saúde insistem em buscar eficiência em cada peso investido: é mais útil para prevenção, cuidados primários, terciários ou paliativos? Michael Porter propõe inverter a fórmula clássica de financiamento: não perguntar "o que posso fazer com esses recursos?", mas sim "qual objetivo de saúde quero alcançar e quanto custará?". Isso nos obriga a tomar decisões mais estratégicas e conscientes.
O que pode ser feito para melhorar o acesso real em áreas onde não há hospitais de alta complexidade?
Nosso sistema é baseado em seguros de rede, que inclui instituições públicas e privadas. Mas há áreas em que essa rede é insuficiente, especialmente em níveis de alta complexidade. É impossível ter hospitais de primeira classe em todos os municípios. Portanto, a chave é como criar uma rede adequada para transportar pacientes e, acima de tudo, prevenir doenças. Também temos que concentrar nossos esforços em certas regiões. Isso envolve decisões difíceis, porque investir em algumas áreas significa desinvestir em outras. Vi um modelo bem-sucedido na África: profissionais não médicos foram treinados para tratar as 10 doenças mais comuns em certas comunidades. Fizemos isso na Colômbia com os Promotores de Saúde. Precisamos pensar em estratégias não tradicionais para doenças de alta incidência, como infecções do trato urinário ou pneumonia. Claro, é disruptivo, mas pode ser eficaz se a equipe for bem treinada.

Epidemiologista colombiano Santiago Herrán Diazgranados. Foto: Edwin Caicedo. O TIEMPO

O senhor disse que não implementaria reformas estruturais, mas sim ajustes pontuais. Por quê?
Porque não tenho certeza se uma reforma resolverá os problemas atuais do sistema. O modelo de seguro resolveu muitos problemas na época e tem funcionado nos últimos 30 anos. Mas os problemas atuais exigem ajustes em áreas específicas, não necessariamente uma reforma completa. Precisamos ter clareza de que existe um ideal, o que deveria ser e o que podemos realmente fazer com os recursos disponíveis. Devemos lutar pelo ideal, sim, mas estar cientes de nossas limitações.
Como o sistema colombiano se compara a outros, como o mexicano ou o sul-africano, que você estudou?
Para mim, a Colômbia é provavelmente um dos países mais equitativos do mundo. Equidade não significa igualdade; significa corrigir injustiças. Damos mais a quem mais precisa. Desde 2012, o Tribunal Constitucional igualou o Plano de Benefícios de Saúde entre o regime subsidiado e o contributivo. Isso é igualdade. Mas também há equidade quando damos acesso a quem não pode pagar, financiado com recursos de todas as partes. Compensamos quem ganha menos ou não pode contribuir. É isso que o torna equitativo.

O Fórum de Saúde Andi será realizado em Cartagena de 18 a 20 de junho. Foto: Andi

Como você vê o futuro do sistema diante da crise de financiamento?
Este não é um problema exclusivo da Colômbia. Todos os países estão discutindo sobre a origem dos recursos, porque as necessidades são infinitas e os recursos, limitados. Hoje, a saúde está entre as cinco principais prioridades da sociedade, o que gera maior demanda e gastos. Estaremos sempre neste círculo vicioso. É por isso que, como país, precisamos ser claros e dizer: estas são as doenças que estamos dispostos a cobrir. E aceitar que o problema de financiamento nunca será completamente resolvido.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo

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