'Uma geração em risco': a crise silenciosa de saúde mental entre jovens e adolescentes latino-americanos

A saúde mental de adolescentes e jovens na América Latina tem enfrentado um aumento sustentado nos últimos anos. Ansiedade, depressão, transtornos alimentares e comportamentos de automutilação têm se tornado cada vez mais comuns na região, enquanto o acesso a cuidados especializados permanece limitado e o estigma social persiste.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), um em cada sete jovens entre 10 e 19 anos em todo o mundo sofre de algum transtorno mental, mas na América Latina o número pode ser ainda maior devido à violência, às desigualdades sociais e à falta de atendimento psicológico ou psiquiátrico. Na Colômbia, o Ministério da Saúde estima que 44,7% das crianças e adolescentes apresentam sinais de sofrimento emocional, enquanto no México, um em cada cinco adolescentes já enfrentou um transtorno mental moderadamente grave.

A falta de acesso, o estigma social e a violência estrutural agravam o problema. Foto: iStock
Em contraste, dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos revelam que mais de 40% dos estudantes do ensino médio relataram sentir-se persistentemente tristes ou desesperançados em 2023, e quase um em cada cinco considerou seriamente o suicídio. Apesar da gravidade desses números, o acesso a cuidados de saúde mental nos EUA excede em muito o da maioria dos países latino-americanos, onde menos de 20% dos adolescentes com sintomas graves recebem algum tipo de tratamento especializado.
“Quanto maior o tempo entre o início dos sintomas e o acesso ao tratamento, mais difícil será a recuperação”, explica a Dra. Tatiana Falcone, psiquiatra de adolescentes da Cleveland Clinic. “Na América Latina, o estigma continua sendo uma das maiores barreiras. Muitos pais acreditam que a depressão ou a ansiedade são uma parte normal da adolescência, e isso atrasa a busca por ajuda profissional.”

Um em cada sete adolescentes no mundo sofre de algum transtorno mental. Foto: iStock
A especialista ressalta que transtornos de ansiedade e depressão são mais comuns em meninas adolescentes, enquanto transtornos comportamentais e de déficit de atenção predominam em meninos. "No caso do suicídio, as mulheres tendem a tentar mais, mas os homens usam meios mais letais, o que eleva a taxa de mortalidade masculina. É uma realidade silenciosa que não podemos mais ignorar", alerta.
Entre os fatores que agravam a saúde mental dos jovens na região estão a violência doméstica, a pressão acadêmica, o bullying, o uso de substâncias e o uso excessivo das redes sociais. Segundo a OPAS, mais de 70% dos adolescentes latino-americanos passam mais de quatro horas por dia em frente às telas, o que está associado a distúrbios do sono, transtorno de déficit de atenção e maior exposição ao cyberbullying.
A especialista enfatiza que a educação emocional e o apoio familiar são pilares fundamentais. “Promover rotinas saudáveis, limitar o uso de telas antes de dormir, incentivar a prática de exercícios e garantir um descanso adequado podem fazer uma diferença significativa. Mas o mais importante é ouvir sem julgar”, ressalta.

O acesso tardio ao tratamento pode significar a diferença entre a recuperação e o declínio. Foto: iStock
A Cleveland Clinic insiste que a saúde mental dos jovens deve ser tratada com a mesma prioridade que a saúde física. Enquanto países de alta renda contam com programas de triagem psicológica nas escolas e acesso rápido à terapia, na América Latina os serviços são insuficientes e centralizados nas grandes cidades. "Ao contrário de sistemas de saúde mais integrados, na região ainda separamos a saúde mental da saúde geral. Precisamos mudar essa abordagem urgentemente", enfatiza o Dr. Falcone.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo