'Cinco milhões de colombianos sofrerão os efeitos da desnutrição até 2035', alerta o diretor executivo da ABACO.

O número é chocante: se a Colômbia não agir com urgência, até 2035 haverá quase 5,9 milhões de pessoas com consequências irreversíveis da desnutrição crônica.
Este foi o alerta feito por Juan Carlos Buitrago, diretor executivo da Associação Colombiana de Bancos de Alimentos (ABACO), durante entrevista ao EL TIEMPO, na qual explicou sem rodeios a dimensão da crise alimentar do país e as ações urgentes necessárias para revertê-la.
Atualmente, 19,2 milhões de colombianos não consomem alimentos nutritivos diariamente , especialmente frutas, vegetais e proteínas. E 16,3 milhões recorrem a estratégias extremas, como pular refeições, endividar-se ou reduzir a qualidade da alimentação para sobreviver.
Além disso, 11.405 crianças foram diagnosticadas com desnutrição aguda neste ano, e 83 crianças morreram de causas associadas a essa condição.

Juan Carlos Buitrago Ortiz, diretor executivo da ABACO. Foto: Cortesia.
“A desnutrição crônica é uma doença invisível, mas devastadora”, afirma Buitrago. Na Colômbia, 392 mil crianças menores de cinco anos sofrem com ela, uma condição que afeta seu desenvolvimento cognitivo, educacional e econômico por toda a vida.
Isso significa que, se esse problema continuar sem solução, até 2035 haverá consequências como: uma queda de 14 pontos no QI, cinco anos a menos de escolaridade e uma redução de 54% na renda na idade adulta. Isso não é apenas um problema de saúde pública, mas também uma armadilha geracional que impede a mobilidade social.
Embora a desnutrição seja frequentemente associada a regiões como La Guajira, o fenômeno é generalizado em todo o país. Mais de 60.000 casos ocorrem em Bogotá e 46.000 em Antioquia, demonstrando que a fome não distingue entre áreas rurais e urbanas.
De acordo com uma análise recente da ABACO, 5,2 milhões de pessoas já sofrem as consequências cognitivas e físicas da desnutrição crônica. "Se não mudarmos nossa abordagem, teremos uma geração menos inteligente e menos produtiva", alerta Buitrago.
E embora o país invista mais de cinco bilhões de pesos anualmente em cuidados na primeira infância por meio da política pública "De Zero a Siempre", o impacto na redução da desnutrição crônica tem sido zero. "A política está salvando vidas, mas não previne danos cognitivos irreversíveis", diz Buitrago.
Os grandes gatilhos Três fatores agravam esta emergência: pobreza estrutural, mudanças climáticas e desperdício de alimentos. A Colômbia é o terceiro país com o maior número de pessoas deslocadas pela violência no mundo (7,3 milhões), e impactos climáticos como os fenômenos El Niño e La Niña afetam gravemente os sistemas de produção de alimentos. Só no ano passado, dois milhões de pessoas tiveram sua segurança alimentar comprometida pelo fenômeno El Niño na Colômbia.
Por outro lado, um terço dos alimentos produzidos no país acaba no lixo. Enquanto milhões passam fome, toneladas de alimentos ainda próprios para consumo são perdidas. Buitrago destaca a necessidade urgente de implementar políticas que permitam a doação de alimentos vencidos, mas seguros, como já acontece em países desenvolvidos.
Alianças estratégicas para a mudança A ABACO coordena a maior rede de segurança alimentar do país, com 26 bancos de alimentos operando sem financiamento público. Graças a parcerias com mais de 1.700 empresas privadas, 2.100 produtores agrícolas e 4.200 organizações sociais, a rede entrega 48.000 toneladas de alimentos anualmente, beneficiando 1,4 milhão de pessoas.

16,3 milhões de colombianos pulam refeições, se endividam e comem alimentos de baixa qualidade. Foto: iStock
Uma experiência notável é a parceria público-privada com a Governadoria de Antioquia, Grupo Éxito, Nutresa, Ara e BIOS, que possibilitou a construção de um novo banco de alimentos e o fornecimento de caminhões para outras localidades do departamento. "Isso mostra que, quando os setores trabalham juntos, o impacto é tangível", enfatiza Buitrago.
Um espaço para construir soluções coletivas Todas essas questões e desafios serão abordados com mais profundidade no Fórum Nutrição na Mesa: Alimentos Desprivilegiados para Todos , organizado pelo EL TIEMPO.
O evento acontecerá no dia 16 de julho, a partir das 9h, no EL TIEMPO (Diagonal 44 #68B-65, Bogotá). Juan Carlos Buitrago abrirá o encontro com uma entrevista, seguida de dois painéis com especialistas do WWF, da academia, do setor privado e do Programa Mundial de Alimentos, entre outros. Será um fórum interdisciplinar fundamental para traçar caminhos rumo a uma Colômbia mais justa e bem alimentada.
eltiempo